EDITORIAL
Foi em uma mesa de madeira, em uma sala de estar, em um apartamento no bairro Carlos Prates, que a Revista Perambula começou a ser, literalmente, desenhada. Colocamos no papel, em letras e cores, nossa vontade de escrever sobre a Belo Horizonte que a gente conhecia e a Belo Horizonte que a gente queria conhecer. Isso porque a cidade crescia a cada boteco, baile, esquina, rua, encontro. O velho e verdadeiro paradoxo do “quanto mais se conhece, menos se sabe”.
Esse primeiro desejo foi colocado no papel – mais precisamente, um rolo de papel manteiga – no início de 2017 e guardado na gaveta como aqueles sonhos que você tem certeza que “uma-hora-vem”. Essa hora veio.
Nasce a Revista Perambula. Uma publicação sobre Belo Horizonte com nove reportagens, uma para cada regional da cidade. Uma para cada exercício de curiosidade. Afinal, o que os traços modernistas escondem sobre a capital? O que as festas de rua mostram sobre a cidade para além dos holofotes? São inúmeras as perguntas possíveis. Infindáveis as respostas.
Somos cinco editores que têm em comum o amor por Belo Horizonte, o prazer pela narrativa e a mania de sair por aí, meio sem rumo, mas sempre alerta. Para se unir ao desafio de criar essa primeira edição, chamamos outros e outras que, como nós, têm olhares atentos para o novo e para o velho – onde, reparando bem, o novo sempre se esconde, quando acha que ninguém está olhando.
Neste primeiro número, o leitor verá que a cidade – na materialidade de seu espaço físico ou em seu campo simbólico – é um terreno em disputa. Uma síntese, harmoniosa ou não, de passados e presentes dispostos em camadas que ora dialogam, ora expõem conflitos que remetem à mesma pergunta: há conciliação possível? Nesse sentido, temas como especulação imobiliária, gentrificação, racismo e insuficiência de políticas públicas atravessam as reportagens aqui reunidas – assim como autogestão, participação social, capacidade de iniciativa, articulação e mobilização coletiva nas diversas regionais.
Para esta revista de alma inquieta, nome melhor não há: Perambula. Perambular significa andar sem destino, mas, em nosso entendimento, não sem propósito. Nos embebedamos – no melhor sentido da palavra – da arte de perambular com inteligência, assim como descreve o cronista João do Rio nas páginas do livroA Alma encantadora das ruas: “Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo (...), é preciso ser aquele que chamamos de flâneur (...). É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de perambular com inteligência”.
Queremos perambular. Queremos recuperar e registrar memórias compartilhadas. Queremos preservar a identidade da cidade. Queremos promover as expressões culturais e artísticas de moradores e moradoras de Belo Horizonte. Para isso, o fio das narrativas que você vai ler aqui são as vivências e memórias coletivas colhidas em comunidades e bairros de cada uma das regionais da capital mineira.
Aproveite o passeio!
QUEM SOMOS
Amanda Corradi
Urbanista e vive na região central. Foi acolhida por Belo Horizonte em 2008 e hoje circula pela cidade de bicicleta. Provavelmente você irá encontrá-la em algum boteco, praça ou festa ao ar livre.
Ana Caroline Azevedo
Designer gráfica e estudante de arquitetura e urbanismo. Militante pela tarifa zero, cresceu atravessando a Zona Oeste de 9250 e hoje anda a pé pelas ruas da cidade.
Juliana Afonso
Jornalista e mestre em Escrita Criativa. Escreve sobre viagens, cultura, política e direitos humanos. Mora no Carlos Prates, mas passou a adolescência "pescando" no 8103 e se perdendo pelo Cidade Ozanam para voltar pra casa.
Laura de Las Casas
Trabalha com jornalismo ambiental e direitos humanos. Coleciona histórias escutadas nos ônibus da cidade e gosta de olhar a vida pelo buraquinho da fechadura.
Leo Bryan
Escreve sobre cultura e literatura. Tem um coração dividido entre os prédios antigos do Centro e as ruas do Colégio Batista, bairro onde cresceu e, depois de rodar um pouco, voltou a morar.
EXPEDIENTE
- EDITORES
Amanda Corradi
Ana Caroline Azevedo
Laura de Las Casas
Leo Bryan
Juliana Afonso
- PROJETO GRÁFICO E CAPA
Ana Caroline Azevedo
- REVISÃO
Lucas de Mendonça Morais
- SITE
Dalton Sena
Esta revista foi realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
- Projeto nº 0976/2020
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